O reflexo da cultura alemã durante a pandemia foi destaque durante o Diálogo Covid-19

Sendo um dos países com grande população e menor número de mortos, entenda as principais ações da Alemanha contra o coronavírus
Michele Camilo (2)

Laura Hoffmann Weiss

Analista de Comunicação e Marketing

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Um dos países mais populosos da Europa, mas que, quando comparado com Itália, França e Espanha, apresenta os menores números de mortos pela devastadora pandemia do Covid-19. Por dados como estes, a Alemanha foi o país escolhido para o quinto episódio dos Diálogos Covid-19 – sistemas de saúde e combate à pandemia. Mais uma vez apresentado pelo sócio da área de healthcare e life sciences do Vernalha Pereira, Silvio Guidi, o debate aconteceu por meio de uma live no Instagram do escritório na última terça-feira (14/04). A convidada para o diálogo foi a advogada e mestre em Direito atuante na Alemanha, Carla Steinkirch.

Com mais de seis anos em terras alemãs, a advogada falou sobre sua experiência com o sistema de saúde da Alemanha. Para surpresa dos telespectadores da live, Steinkirch contou que a grande maioria da população utiliza o sistema “público”, o qual é pago pelos próprios alemães e empregadores por meio dos seguros de saúde. “O alemão tem uma interpretação muito diferente dos brasileiros com relação ao médico, emergências e remédios. Eles evitam ir ao médico. Emergência é só quando se estiver muito mal mesmo. Se você chega na emergência com algo não tão grave, você é mandado embora. Os médicos tem horários diferenciados e toda pessoa tem um médico “da casa”. O primeiro contato é sempre com ele, seja por telefone ou na clínica. É o seu médico que te encaminha para especialistas, se necessário. E se ele não está atendendo de madrugada, então você pode recorrer às clinicas de emergência, que são pouquíssimas por cidade. E nestas clínicas, muito provavelmente, não vão te passar nenhum medicamento”.

Para Silvio Guidi, há fragilidades nesse sistema de saúde alemão, pois o foco na saúde primária gera economia ao país. “A saúde secundária e terciária são as mais caras. Ou seja, focar no médico de referência e ele encaminhar para a saúde especializada gera economia”. Apesar do sistema funcionar bem para emergências e saúde primária, Carla Steinkirch relatou que é comum a população esperar para ser atendida por especialistas. “Aqui é comum a fila de espera no atendimento, esperar quatro meses por uma consulta especializada. Quem está no privado, não precisa esperar. Mas o privado é para uma parcela muito específica da população, quem ganha mais de 60 mil euros bruto por ano, por exemplo. E se você vai para o privado, você não volta para o público. Por isso, a maioria esmagadora da população não vai para o privado”.

Pandemia do Covid-19 na Alemanha

Adentrando no tema da pandemia do Covid-19, a advogada trouxe algumas questões que, segundo estudos, podem ter ajudado a Alemanha a segurar o número de mortos mais abaixo dos demais países. Entre as principais estão a) O fato de os alemães não terem a cultura de ir ao médico com tanta frequência fez com os hospitais não lotassem; b) Diferente do Brasil e Itália, na Alemanha as pessoas não se abraçam ou beijam com tanta frequência; c) Os idosos, culturalmente, moram sozinhos ou em asilos, e não recebem visitas constantes de jovens. “Na Itália e Brasil, os filhos têm essa ligação forte com os pais e quando eles ficam doentes, os filhos cuidam dos pais. E podem acabar infectando”, contou Steinkirch.

Com relação ao isolamento social, a Alemanha tem levado as medidas a sério. “Há cinco semanas, a primeira medida federal tomada aqui foi o fechamento dos asilos. Depois disso, o ministro da saúde alemão apelou que a população ficasse voluntariamente em casa, e pelo menos 30% da população acatou ao apelo. E depois que veio a obrigatoriedade de ficar em casa. Podem sair de casa até no máximo duas pessoas, e com a separação de pelo menos 1,5m de distância entre os indivíduos. Exercícios a céu aberto, por exemplo, são permitidos desde que não exceda essas medidas”. No momento, a população está esperando o pronunciamento da chanceler do país, Angela Merkel, para acompanhar as mudanças nas restrições e no isolamento.

Assim como no Brasil, o uso de máscaras tem ganhado força na Alemanha. “As costureiras e quem tem uma mínima noção de costura, estão produzindo máscaras de tecido, mas com um filtro descartável que está sendo colocado dentro, para doação e para si mesmos. O uso já não está mais tão mal visto, e as pessoas estão usando nas ruas”. Já o uso de testes tem sido complicado no país. “Os testes são aplicados quando você entra em contato por um número de telefone específico, e seu médico “da casa” deixa o teste na porta ou entra na sua casa e ele mesmo faz. Ou então, você dirige para um centro de triagem, e tem a possibilidade de fazer o teste. Mas estes centros só existem nas cidades maiores. O fato é que a grande maioria não consegue ligar no número, não consegue falar com o médico e não tem nenhum centro de triagem perto da sua casa. O que acontece é que as pessoas acabam passando mal em casa, chamando a ambulância e indo para os hospitais”.

De acordo com Carla Steinkirch, a Alemanha está passando por mudanças muito grandes. Uma população muito tradicional que tem aprendido a lidar com a tecnologia. “Depois do Covid-19, estamos recebendo remédios pelos correios, atestado pelo telefone e quase todos os médicos já estão fazendo atendimentos televisionados. Nestas duas últimas semanas têm tido uma boa aceitação. Estabelecimentos estão recebendo pagamentos em cartão, vemos entrega de alimentos por supermercados e restaurantes, home office e outras coisas que ninguém fazia aqui”.

Solidariedade. Para a advogada, esta é o maior exemplo e lição que a Alemanha pode nos deixar em meio à pandemia. “O alemão não está saindo de casa porque não quer infectar o outro. Não quer assoberbar o sistema de saúde. Ele não quer tirar um leito de UTI de quem está sofrendo com Covid-19 ou com um ataque cardíaco, por exemplo. A população aqui se atém as regras porque acreditam que elas foram criadas com base em estudos, e sabem que esta é a melhor maneira de combater o vírus: ficando em casa”.

Nesta série de cinco diálogos com Itália, Estados Unidos, Portugal, Reino Unido e Alemanha, realizada pelo Vernalha Pereira, o principal conselho se repete: a população brasileira deve se inspirar no espírito de comunidade, empatia, solidariedade e amor ao próximo. Ficar em casa é mais do que cuidar da própria saúde, é cuidar de todos.

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