A COP30, que ocorrerá em novembro de 2025 em Belém do Pará, será mais do que uma conferência sobre o clima. Ao ser realizada no coração da Amazônia, ganha uma dimensão singular: conecta a preservação ambiental às urgências sociais de um país marcado por desigualdades estruturais. A discussão sobre infraestrutura social resiliente emerge nesse cenário como pauta estratégica, pois trata de preparar cidades, comunidades e sistemas de serviços públicos para resistirem e se adaptarem aos impactos das mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que promove inclusão e desenvolvimento econômico.
Os desafios são expressivos. Enchentes, secas prolongadas, deslizamentos e ondas de calor vêm se tornando cada vez mais frequentes, ampliando vulnerabilidades históricas da população brasileira. O déficit em saneamento básico, moradia, saúde e mobilidade urbana aumenta o custo humano e econômico de cada evento climático extremo. A Organização Mundial da Saúde estima que, entre 2030 e 2050, mais de 250 mil mortes anuais estarão relacionadas ao clima. No Brasil, essas estatísticas ganham contornos ainda mais graves diante da combinação entre pobreza, insegurança alimentar e falta de acesso a serviços essenciais.
A resposta não pode se limitar a reparar danos após desastres. A lógica preventiva (e menos onerosa a longo prazo) reside, justamente, no investimento em infraestrutura resiliente. Por isso, novas políticas e regulamentações brasileiras já incorporam essa exigência. A Lei nº 14.904/2024, por exemplo, instituiu diretrizes nacionais para a adaptação climática, obrigando governos e empresas a planejarem obras públicas e privadas sob a ótica da resiliência. Além disso, contratos de concessão passaram a prever percentuais mínimos da receita destinados a investimentos em infraestrutura adaptada, sinalizando uma mudança estrutural no mercado.
Esse novo paradigma coloca o setor privado no centro da transição. Empresas de engenharia, transporte, saneamento, energia e tecnologia têm a oportunidade (e a obrigação) de inovar, incorporar práticas de sustentabilidade e adotar soluções de baixo carbono. Experiências recentes mostram o uso de materiais reciclados em rodovias, sistemas de monitoramento climático em tempo real e obras projetadas para resistir a eventos extremos. Tais medidas não apenas reduzem riscos, como também abrem acesso a linhas de financiamento verdes e a investidores que priorizam critérios ESG.
No plano internacional, a agenda financeira da COP30 também reforçará o protagonismo do setor privado. O governo brasileiro deve apresentar iniciativas voltadas à atração de capital estrangeiro e ao fortalecimento regulatório para mercados de carbono e fundos climáticos, criando instrumentos mais previsíveis e seguros para quem deseja investir em infraestrutura sustentável.
Outro aspecto central é o da justiça social. Infraestrutura resiliente não se resume a pontes, estradas ou hospitais resistentes a enchentes. Significa garantir que comunidades ribeirinhas, povos indígenas, periferias urbanas e populações vulneráveis tenham acesso a serviços básicos capazes de suportar crises ambientais. Programas como o AdaptaCidades, que capacita estados e municípios a elaborarem planos de adaptação climática, apontam para a necessidade de envolver diferentes esferas de governo e a sociedade civil organizada. Essa perspectiva deve ser incorporada pelas empresas no desenvolvimento de projetos, pois investimentos que desconsideram o contexto social tendem a fracassar em sua finalidade e legitimidade.
A realização da COP30 no Brasil simboliza uma convocação à ação. Para além de compromissos diplomáticos, trata-se de um momento de redefinir como o país (e o setor privado em particular) enxerga a relação entre desenvolvimento e sustentabilidade. A construção de uma infraestrutura social resiliente não é apenas um imperativo ético ou ambiental: é um vetor de competitividade, atração de investimentos e estabilidade jurídica.
Assim, enquanto governos alinham políticas públicas, cabe às empresas anteciparem-se, revisarem contratos, capacitarem equipes e incorporarem tecnologias que reduzam riscos e ampliem a proteção social.
O caminho para uma sociedade mais justa e preparada frente às mudanças climáticas depende da convergência entre políticas públicas eficazes, inovação empresarial e arcabouço jurídico sólido. A COP30, ao colocar o Brasil no centro das atenções globais, é a oportunidade de transformar essa convergência em realidade.